Mar 15, 2010

Cinema Paraiso

Ontem vi Cinema Paraiso. É um filme maravilhoso. Essa Italia de posguerra nao é tao longínqua como pode parecer. Tive um contacto com esses tempos, embora nao tivesse sido directo. Foi através dos meus pais e avós. Essa simplicidade, da que tantas saudades tenho, e que a ansia progressista elimina gradualmente, era um prazer. Apreciar as pequenas coisas, amar o que um faz. É fundamental conhecer-se a um mesmo para amar o que um faz, ou se calhar, o contrário.

O assunto é que o filme toca tantas coisas relativas a simplicidade do ser humano. Gostava de comentar, o facto de um ir-se longe, emigrar - algo tao presente na Galiza e em Portugal- , e voltar depois de muito tempo para comprobar que as coisas seguem igual, só que mais brancas e mais claras. Para já, as coisas continuam sempre no coracao de um, e algumas que pareciam desaparecidas incomodam um bocadinho sempre que um nao as confronta. O pequeno drama do retorno dalgúns emigrantes é o furacao de sensacoes que tem ao regresso. Como Totó, pensavam que já tinham esquecido ao madurecer, ao fazer-se adulto. No entanto, descobre-se que certas paixoes, certas reacoes nao desapareceram. Só era preciso um reencontro para reactiva-las. O beijo da mae, o seu abraco, as velhas caras, a paisagem, o contacto dos pés com esse chao que segue aí... A excitacao é extrema. É como um alto salto a agua, quando um acaba molhado, mas totalmente cheio. Só as vezes um nao sabe como secar-se, ou se saltar de cabeca ou de pé... aí há um fantasma do passado que há que confrontar.

É particularmente bom quando um foi bem sucedido na diáspora. O regresso está cheio de orgulho, de respeito. Como Alfredo disse, "nao quero ouvir-te, apenas quero ouvir falar de ti". Como descrevia o nosso ferrolán Torrente Ballester em "Los Gozos y la Sombras", falando dos emigrantes, muitos dos que nao tiveram sucesso, nao voltavam, como se ficassem no limbo. A vergonha do fracaso podia talvez fazer que a história de um, o seu passado, nao deixasse de ser passado. Perdia-se essa trasmissao a próxima geracao... infelizmente. Acontece com muitos netos de emigrantes, que nao sabem donde é que o seu avó veio.

Em resumo, a volta a casa, o retorno, é o resultado, o comprobante da viagem. A confirmacao de que o que foi feito foi que tinha de ser, a coisa certa. E sempre é. Sempre que um volta, ainda que só seja para cumprimentar só uma vez. Confirma que a coragem de ter ido embora mudou a sua vida, e que o passado, a infancia, está sempre com ele, esteja onde estiver.

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