Ontem vi este filme na 11 Festa de Cinema Francês... no Cinema São Jorge, em Lisboa. Queria comentar sobre ele, porque valeu a pena, embora nem tudo o que ouvi acerca dele foi positivo.
Antes de nada, não gosto de crítica quando se fala de um filme ou de um poema. Prefiro a palavra resenha, talvez mais no sentido que a palavra tem em espanhol, uma simples narração breve, uma descrição. Gosto de dizer opinião. Mas, quanto a arte, não gosto da palavra crítica. Quando se critica na esfera política, está-se a criar uma barreira contra o poder. Ademais de criticar algo que pode ou não prejudicar, directa ou indirectamente as nossas vidas. Mas não gosto da pessoa que se levanta com o desejo de criticar uma música, ou o que observa um desenho simplesmente na procura do(s) seu(s) erro(s), para logo esquecer a sua beleza. Tudo isto, para dizer, que neste filme pulcro e desarrumado, simpático e triste por vezes, não deve ser criticável do ponto de vista do que se passa e como se passa. O que se passa é o que o criador quer que se passe. Como se passa passa-se como o criador-realizador quer que se passe. O espectador decide se quer ou não quer assistir ao filme. Decide se gosta ou não – o qual é diferente da posição ácida e nauseabunda do mundo da crítica, seja esta musical ou do que for. Não significa isto que aceito o “tudo vale”, o relativismo na arte. Mas quando algo não vale, a obra desqualifica-se por si própria; quando não instantaneamente, é o tempo o encarregado desta missão crítica. Odeio a maldade existente que engole as boas intenções, a "inocência" dos artistas (quanto à pureza na sua tentativa de criação nas perspectivas de materialização de estética, beleza, trascendentalidade filosófica, paixão) na sua arte, por muito maldosos que eles forem. Ora, quando o artista procura o malestar do espectador (quando um ser humano procura o malestar doutro ser humano), ou quando está a gozar com ele, a história é diferente.
O filme
36 vues du Pic Saint Loup, de Jacques Rivette, foi para mim uma sensação. Foi um regresso do presente ao espírito pleno da Nouvelle Vague. É um exemplo de sinceridade tragicômica e doce, filme abarrotado de silêncios -resultados do barulho da realidade menos o barulho humano -cheios de cor (cores que neste filme substituem a música), cujas palavras nunca sobram. O humor reveste o drama, e vice-versa. Esses silêncios arco-iris são alternados com monólogos expressivos e livres de complexos, e diálogos francamente directos, ou directamente francos. Representações disparatadamente teatralizadas, por vezes absurdas mas sempre honestas. Por isso, caricaturas tendentes a humanizar-se. Cinema em pintura. Palavras num grande quadro belo e simpático. E o filme, a suceder em volta do Circo.
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