Oct 9, 2010

36 vues du Pic Saint Loup, de Jacques Rivette


Ontem vi este filme na 11 Festa de Cinema Francês... no Cinema São Jorge, em Lisboa. Queria comentar sobre ele, porque valeu a pena, embora nem tudo o que ouvi acerca dele foi positivo.
Antes de nada, não gosto de crítica quando se fala de um filme ou de um poema. Prefiro a palavra resenha, talvez mais no sentido que a palavra tem em espanhol, uma simples narração breve, uma descrição. Gosto de dizer opinião. Mas, quanto a arte, não gosto da palavra crítica. Quando se critica na esfera política, está-se a criar uma barreira contra o poder. Ademais de criticar algo que pode ou não prejudicar, directa ou indirectamente as nossas vidas. Mas não gosto da pessoa que se levanta com o desejo de criticar uma música, ou o que observa um desenho simplesmente na procura do(s) seu(s) erro(s), para logo esquecer a sua beleza. Tudo isto, para dizer, que neste filme pulcro e desarrumado, simpático e triste por vezes, não deve ser criticável do ponto de vista do que se passa e como se passa. O que se passa é o que o criador quer que se passe. Como se passa passa-se como o criador-realizador quer que se passe. O espectador decide se quer ou não quer assistir ao filme. Decide se gosta ou não – o qual é diferente da posição ácida e nauseabunda do mundo da crítica, seja esta musical ou do que for. Não significa isto que aceito o “tudo vale”, o relativismo na arte. Mas quando algo não vale, a obra desqualifica-se por si própria; quando não instantaneamente, é o tempo o encarregado desta missão crítica. Odeio a maldade existente que engole as boas intenções, a "inocência" dos artistas (quanto à pureza na sua tentativa de criação nas perspectivas de materialização de estética, beleza, trascendentalidade filosófica, paixão) na sua arte, por muito maldosos que eles forem. Ora, quando o artista procura o malestar do espectador (quando um ser humano procura o malestar doutro ser humano), ou quando está a gozar com ele, a história é diferente.

O filme

36 vues du Pic Saint Loup, de Jacques Rivette, foi para mim uma sensação. Foi um regresso do presente ao espírito pleno da Nouvelle Vague. É um exemplo de sinceridade tragicômica e doce, filme abarrotado de silêncios -resultados do barulho da realidade menos o barulho humano -cheios de cor (cores que neste filme substituem a música), cujas palavras nunca sobram. O humor reveste o drama, e vice-versa. Esses silêncios arco-iris são alternados com monólogos expressivos e livres de complexos, e diálogos francamente directos, ou directamente francos. Representações disparatadamente teatralizadas, por vezes absurdas mas sempre honestas. Por isso, caricaturas tendentes a humanizar-se. Cinema em pintura. Palavras num grande quadro belo e simpático. E o filme, a suceder em volta do Circo.

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